26 de maio de 2013

"The Road to Awe" - (Pt 6)



26 de Maio:

Concluo que só haveria uma coisa que eu alteraria no The Fountain (se pudesse!): teria colocado mais momentos entre o Tommy e a Izzi antes de ela ser diagnosticada. Na verdade, o que parece prejudicar o filme é a ausência de dois ou três momentos felizes entre os dois amantes para cortar a tensão avassaladora que atravessa toda a história... Talvez isso tivesse ajudado alguns membros do público-alvo a identificarem-se mais com as personagens...

À parte desse pequeno apontamento, a minha fé no cinema foi restaurada (ainda que só por uma hora e meia) e continuo a achar que o filme é o melhor e o mais generoso que já vi – não há vez que o veja que ele não me dê algo em troca!

Nunca me canso de ver as actuações de Hugh Jackman e de Rachel Weisz, que são de uma intensidade magistral. A actuação de Ellen Burstyn como a chefe de Tommy Creo (a voz da razão) também é convincente e comevedora. Os temas, os símbolos e as metáforas fluem no filme, traduzindo-se num espectacular stream of consciousness visual e espiritual. Até já me começo a habituar à assombrosa banda sonora de Clint Mansell, embora continue a achar que o tema "The Great Gig in the Sky" dos Pink Floyd 'encaixa' melhor no clímax do filme, mas isso é outro assunto.


O anel é o símbolo e a a metáfora mais persistente no filme, o que melhor espelha o Amor, a passagem do Tempo (os anéis das árvores), a metáfora da aliança entre a rainha e o conquistador, entre o marido e a mulher... Continuamos nas dualidades, é engraçado! Ainda que a forma do dito objecto prove a união entre os dois pólos numa só entidade e a consequente unidade de tudo o que existe e já existiu. Será essa a resposta?!...

A necessidade de Darren Aronofsky fazer este filme é igualada na ficção à necessidade de Izzi em escrever o seu livro – a arte como a busca pelas respostas para a nossa viagem nesta vida. Também Izzi buscou na expressão artística uma forma de lidar com o seu destino e aceitar a sua mortalidade. E, tal como ela, Aronofsky entrega-nos a sua obra e convida-nos a continuar o projecto. Não que o filme esteja inacabado, mas as múltiplas respostas nele contidas obrigam-nos a um processo de reflexão sobre o propósito que a morte serve na nossa vida; o motivo pelo qual a morte tanto nos assusta; como viver o mais profundamente possível, etc.

Em última análise, somos nós que temos de escrever o último capítulo.


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