30 de abril de 2014

«Livro do Desassossego» Arquivado

Se é verdade que o Livro do Desassossego foi escrito de forma fragmentária e que Pessoa nunca teve tempo de o editar devidamente, também é verdade que, na era da Internet, não há obras que não possam ser editadas de forma digital. 

As Universidades de Coimbra e Lizboa juntaram-se para um ambicioso projecto de criar um arquivo para a obra-prima de Bernardo Soares.

Tal como indica esta imagem, este arquivo vai reunir os manuscritos originais de Pessoa dos mais de 700 fragmentos do Livro do Desassossego. O aquivo irá também incluir obras de investigadores como Richard Zenith e Jerónimo Pizarro. Este projecto teve início em 1 de Março de 2012 e terminará em 28 de Fevereiro de 2015.

Vale a pena acompanhar este trabalho sobre esta maravilhosa obra do maior poeta português!



25 de abril de 2014

As Portas de Abril




AS PORTAS QUE ABRIL ABRIU

Era uma vez um país
onde entre o mar e a guerra
vivia o mais infeliz
dos povos à beira-terra.

Onde entre vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
um povo se debruçava
como um vime de tristeza
sobre um rio onde mirava
a sua própria pobreza.

Era uma vez um país
onde o pão era contado
onde quem tinha a raiz
tinha o fruto arrecadado
onde quem tinha o dinheiro
tinha o operário algemado
onde suava o ceifeiro
que dormia com o gado
onde tossia o mineiro
em Aljustrel ajustado
onde morria primeiro
quem nascia desgraçado.

Era uma vez um país
de tal maneira explorado
pelos consórcios fabris
pelo mando acumulado
pelas ideias nazis
pelo dinheiro estragado
pelo dobrar da serviz
pelo trabalho amarrado
que até hoje já se diz
que nos tempos do passado
se chamava esse país
Portugal suicidado.

Ali nas vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
vivia um povo tão pobre
partia para a guerra
para encher quem estava podre
de comer a sua terra.

Um povo que era levado
para Angola nos porões
um povo que era tratado
como a arma dos patrões
um povo que era obrigado
a matar por suas mãos
sem saber que um bom soldado
nunca fere os seus irmãos.

Ora passou-se porém
que dentro de um povo escravo
alguém que lhe queria bem
um dia plantou um cravo.

Era a semente da esperança
feita de força e vontade
era ainda uma criança
já era a liberdade.

Era já uma promessa
era a força da razão
do coração à cabeça
da cabeça ao coração.
Quem o fez era soldado
homem novo capitão
mas também tinha a seu lado
muitos homens na prisão.

Esses que tinham lutado
a defender um irmão
esses que tinham passado
o horror da solidão
esses que tinham jurado
sobre uma côdea de pão
ver o povo libertado
do terror da opressão.

Não tinham armas é certo
mas tinham toda a razão
quando um homem morre perto
tem de haver distanciação

uma pistola guardada
nas dobras da sua opção
uma bala disparada
contra a sua própria mão
e uma força perseguida
que na escolha do mais forte
faz com que a força da vida
seja maior do que a morte.

Quem o fez era soldado
homem novo capitão
mas também tinha a seu lado
muitos homens na prisão.

Posta a semente do cravo
começou a floração
do capitão ao soldado
do soldado ao capitão.

Foi então que o povo armado
percebeu qual a razão
porque o povo despojado
lhe punha as armas na mão.

Pois também ele humilhado
em sua própria grandeza
era soldado forçado
contra a pátria portuguesa.

Era preso e exilado
e no seu próprio país
muitas vezes estrangulado
pelos generais senis.

Capitão que não comanda
não pode ficar calado
é o povo que lhe manda
ser capitão revoltado
é o povo que lhe diz
que não ceda e não hesite
– pode nascer um país
do ventre duma chaimite.

Porque a força bem empregue
contra a posição contrária
nunca oprime nem persegue
– é força revolucionária!

Foi então que Abril abriu
as portas da claridade
e a nossa gente invadiu
a sua própria cidade.

Disse a primeira palavra
na madrugada serena
um poeta que cantava
povo é quem mais ordena.

E então por vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
desceram homens sem medo
marujos soldados «páras»
que não queriam o degredo
dum povo que se separa.
E chegaram à cidade
onde os monstros se acoitavam
era a hora da verdade
para as hienas que mandavam
a hora da claridade
para os sóis que despontavam
e a hora da vontade
para os homens que lutavam.

Em idas vindas esperas
encontros esquinas e praças
não se pouparam as feras
arrancaram-se as mordaças
e o povo saiu à rua
com sete pedras na mão
e uma pedra de lua
no lugar do coração.

Dizia soldado amigo
meu camarada e irmão
este povo está contigo
nascemos do mesmo chão
trazemos a mesma chama
temos a mesma ração
dormimos na mesma cama
comendo do mesmo pão.
Camarada e meu amigo
soldadinho ou capitão
este povo está contigo
a malta dá-te razão.
Foi esta força sem tiros
de antes quebrar que torcer
esta ausência de suspiros
esta fúria de viver
este mar de vozes livres
sempre a crescer a crescer
que das espingardas fez livros
para aprendermos a ler
que dos canhões fez
para lavrarmos a terra
e das balas disparadas
apenas o fim da guerra.

Foi esta força viril
de antes quebrar que torcer
que em vinte e cinco de Abril
fez Portugal renascer.

E em Lisboa capital
dos novos mestres de Aviz
o povo de Portugal
deu o poder a quem quis.

Mesmo que tenha passado
às vezes por mãos estranhas
o poder que ali foi dado
saiu das nossas entranhas.
Saiu das vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
onde um povo se curvava
como um vime de tristeza
sobre um rio onde mirava
a sua própria pobreza.

E se esse poder um dia
o quiser roubar alguém
não fica na burguesia
volta à barriga da mãe.
Volta à barriga da terra
que em boa hora o pariu
agora ninguém mais cerra
as portas que Abril abriu.

Essas portas que em Caxias
se escancararam de vez
essas janelas vazias
que se encheram outra vez
e essas celas tão frias
tão cheias de sordidez
que espreitavam como espias
todo o povo português.

Agora que já floriu
a esperança na nossa terra
as portas que Abril abriu
nunca mais ninguém as cerra.

Contra tudo o que era velho
levantado como um punho
em Maio surgiu vermelho
o cravo do mês de Junho.

Quando o povo desfilou
nas ruas em procissão
de novo se processou
a própria revolução.

Mas eram olhos as balas
abraços punhais e lanças
enamoradas as alas
dos soldados e crianças.

E o grito que foi ouvido
tantas vezes repetido
dizia que o povo unido
jamais seria vencido.

Contra tudo o que era velho
levantado como um punho
em Maio surgiu vermelho
o cravo do mês de Junho.

E então operários mineiros
pescadores e ganhões
marçanos e carpinteiros
empregados dos balcões
mulheres a dias pedreiros
reformados sem pensões
dactilógrafos carteiros
e outras muitas profissões
souberam que o seu dinheiro
era presa dos patrões.

A seu lado também estavam
jornalistas que escreviam
actores que se
cientistas que aprendiam
poetas que estrebuchavam
cantores que não se vendiam
mas enquanto estes lutavam
é certo que não sentiam
a fome com que apertavam
os cintos dos que os ouviam.

Porém cantar é ternura
escrever constrói liberdade
e não há coisa mais pura
do que dizer a verdade.

E uns e outros irmanados
na mesma luta de ideais
ambos sectores explorados
ficaram partes iguais.

Entanto não descansavam
entre pragas e perjúrios
agulhas que se espetavam
silêncios boatos murmúrios
risinhos que se calavam
palácios contra tugúrios
fortunas que levantavam
promessas de maus augúrios
os que em vida se enterravam
por serem falsos e espúrios
maiorais da minoria
que diziam silenciosa
e que em silêncio fazia
a coisa mais horrorosa:
minar como um sinapismo
e com ordenados régios
o alvor do socialismo
e o fim dos privilégios.

Foi então se bem vos lembro
que sucedeu a vindima
quando pisámos Setembro
a verdade veio acima.

E foi um mosto tão forte
que sabia tanto a Abril
que nem o medo da morte
nos fez voltar ao redil.

Ali ficámos de pé
juntos soldados e povo
para mostrarmos como é
que se faz um país novo.

Ali dissemos não passa!
E a reacção não passou.
Quem já viveu a desgraça
odeia a quem desgraçou.

Foi a força do Outono
mais forte que a Primavera
que trouxe os homens sem dono
de que o povo estava à espera.

Foi a força dos mineiros
pescadores e ganhões
operários e carpinteiros
empregados dos balcões
mulheres a dias pedreiros
reformados sem pensões
dactilógrafos carteiros
e outras muitas profissões
que deu o poder cimeiro
a quem não queria patrões.

Desde esse dia em que todos
nós repartimos o pão
é que acabaram os bodos
— cumpriu-se a revolução.

Porém em quintas vivendas
palácios e palacetes
os generais com prebendas
caciques e cacetetes
os que montavam cavalos
para caçarem veados
os que davam dois estalos
na cara dos empregados
os que tinham bons amigos
no consórcio dos sabões
e coçavam os umbigos
como quem coça os galões
os generais subalternos
que aceitavam os patrões
os generais inimigos
os generais garanhões
teciam teias de aranha
e eram mais camaleões
que a lombriga que se amanha
com os próprios cagalhões.
Com generais desta apanha
já não há revoluções.
Por isso o onze de Março
foi um baile de Tartufos 
uma alternância de terços 
entre ricaços e bufos.
E tivemos de pagar
com o sangue de um soldado
o preço de já não estar
Portugal suicidado.

Fugiram como cobardes
e para terras de Espanha
os que faziam alardes 
dos combates em campanha.

E aqui ficaram de pé
capitães de pedra e cal
os homens que na Guiné
aprenderam Portugal.

Os tais homens que sentiram
que um animal racional
opõe àqueles que o firam
consciência nacional.

Os tais homens que souberam
fazer a revolução 
porque na guerra entenderam
o que era a libertação.

Os que viram claramente
e com os cinco sentidos 
morrer tanta tanta gente
que todos ficaram vivos.

Os tais homens feitos de aço
temperado com a tristeza
que envolveram num abraço
toda a história portuguesa.

Essa história tão bonita
e depois tão maltratada
por quem herdou a desdita
da história colonizada.

Dai ao povo o que é do povo 
pois o mar não tem patrões.
– Não havia estado novo
nos poemas de Camões!

Havia sim a lonjura
e uma vela desfraldada
para levar a ternura
à distância imaginada.

Foi este lado da história 
que os capitães descobriram
que ficará na memória 
das naus que de Abril partiram

das naves que transportaram
o nosso abraço profundo
aos povos que agora deram
novos países ao mundo.

Por saberem como é
ficaram de pedra e cal 
capitães que na Guiné 
descobriram Portugal.

E em sua pátria fizeram 
o que deviam fazer:
ao seu povo devolveram
o que o povo tinha a haver:
Bancos seguros petróleos
que ficarão a render
ao invés dos monopólios 
para o trabalho crescer. 
Guindastes portos navios 
e outras coisas para erguer
antenas centrais e fios 
dum país que vai nascer.

Mesmo que seja com frio 
é preciso é aquecer 
pensar que somos um rio
que vai dar onde quiser

pensar que somos um mar
que nunca mais tem fronteiras
e havemos de navegar 
de muitíssimas maneiras.

No Minho com pés de linho
no Alentejo com pão
no Ribatejo com vinho 
na Beira com requeijão 
e trocando agora as voltas 
ao vira da produção 
no Alentejo bolotas 
no Algarve maçapão 
vindimas no Alto Douro 
tomates em Azeitão 
azeite da cor do ouro 
que é verde ao pé do Fundão
e fica amarelo puro 
nos campos do Baleizão. 
Quando a terra for do povo
o povo deita-lhe a mão!

É isto a reforma agrária
em sua própria expressão:
a maneira mais primária
de que nós temos um quinhão
da semente proletária
da nossa revolução.

Quem a fez era soldado 
homem novo capitão
mas também tinha a seu lado
muitos homens na prisão.

De tudo o que Abril abriu 
ainda pouco se disse
um menino que sorriu 
uma porta que se abrisse
um fruto que se expandiu
um pão que se repartisse
um capitão que seguiu
o que a história lhe predisse
e entre vinhas sobredos 
vales socalcos searas 
serras atalhos veredas 
lezírias e praias claras 
um povo que levantava
sobre um rio de pobreza
a bandeira em que ondulava 
a sua própria grandeza! 
De tudo o que Abril abriu
ainda pouco se disse 
e só nos faltava agora 
que este Abril não se cumprisse.
Só nos faltava que os cães
viessem ferrar o dente
na carne dos capitães
que se arriscaram na frente.

Na frente de todos nós
povo soberano e total
que ao mesmo tempo é a voz 
e o braço de Portugal.

Ouvi banqueiros fascistas 
agiotas do lazer 
latifundiários machistas
balofos verbos de encher
e outras coisas em istas 
que não cabe dizer aqui
que aos capitães progressistas
o povo deu o poder! 
E se esse poder um dia
o quiser roubar alguém
não fica na burguesia
volta à barriga da mãe!
Volta à barriga da terra 
que em boa hora o pariu 
agora ninguém mais cerra 
as portas que Abril abriu!

–– Ary dos Santos



23 de abril de 2014

The Reunion Is On!


I've noticed this interesting phenomenon: from time to time there are outpourings of support for aRoswell movie from tweeters to the actors of the show. Although not in the habit of doing that myself, I've blogged about the Roswell movie petition and the possibility of a movie a while back

But things have changed a lot since my last post about a Roswell movie. Information is now official that the reunion that the fans have been waiting for many years is in place at ATX Television Fest in June. 

According to TheWrapShiri Appleby, Nick Wechsler, Brendan Fehr and show creator Jason Katims (“Friday Night Lights,” “Parenthood”) will be reuniting during a session at the TV festival held in Austin, Texas from June 5-8. From now to June, every fan hopes that more actors will join the panel. This reunion alone is a dream come true for many.



Who know what can happen after this?



I think the movie is but one option – what I would really like is to have Roswell back, in any capacity – a motion picture, a forth season, a mini-series, or even a documentary. 

But all of these (haha, pardon the Freudian slip), I mean, any of these possibilities could only be viable if the original cast was involved. Yes, even Emilie de Ravin. (What!? Ava is not dead!) Absent that, I wouldn't look forward to any possibility. 

Since I don't work in the medium, I am clueless about which of these possibilities is more viable than the other. Or the most expensive, for that matter. But I can muse about it, free of charge. 

As I'm writing this, all of the actors are involved in projects of their own. This is important on the list of priorities, if we wish to have the main cast involved in any Roswell-related endeavor. 

Assuming that the main players would all be willing to work together again, which of those options would be most likely?

Let's see... A movie takes a relatively short time to shoot (compared to a full season) so I think it would be possible to reunite the cast around such a project. But what script could bring the actors back? Turning Pursuit and Turnabout into a script could be a good idea for a feature film, since the books are considered part of the canon. Of course, Roswell is not short of great stories to tell, if the scriptwriters turn their imagination loose. 

A full Tv season that has 22-24 episodes takes about ten months to shoot. Anyone familiar with the routine of a tv actor knows how demanding the shooting schedule is for everybody. I'm talking about very long workdays. Unless all the actors were sitting on their hands and desperate for work, I think it's very difficult getting them all together again like this. If there was no problem getting the team back together, there would be no shortage of stories to tell in a fourth season. Jason Katims' original plan seems pretty good – the kids on the road doing good deeds and avoiding the law. 

One way of making all of this a lil' bit more actor friendly, could be making a mini-series, rather than a full season. You don't really need more than ten episodes to tell a terrific story and the schedule is almost certainly more accessible to our cast. I don't know which project takes more time – whether the movie or the mini-series – but I think either one would be a great idea!

Of course, there's another possibility, as remote as it may sound – the documentary. As I have said before, the show left many gaps in the narrative and there was so much happening behind the scenes that a documentary about the making-of the show could be welcomed by the fans. The advantage of this type of project is that the schedule would be minimal for the actors, the show-runners and "the suits" – it could be done individually and at their convenience, which would be good for them and good for the fans. It would be funny if a Roswell documentary could be directed by Shiri Appleby – since she's been 'warming up' for the task for a while now.

Anyway, let's focus on our long-awaited reunion for now. There will be plenty of time to dream later.

WE WANTTO BELIEVE!