13 de setembro de 2015

"A Mão Invisível"

A cada qual, como a estatura, é dada
        A justiça: uns faz altos
        O fado, outros felizes.
Nada é prémio: sucede o que acontece.
        Nada, Lídia, devemos
        Ao fado, senão tê-lo.



A mão invisível do vento roça por cima das ervas.
Quando se solta, saltam nos intervalos do verde
Papoilas rubras, amarelos malmequeres juntos,
E outras pequenas flores azúis que se não vêem logo.

Não tenho quem ame, ou vida que queira, ou morte que roube.
Por mim, como pelas ervas um vento que só as dobra
Para as deixar voltar àquilo que foram, passa.
Também por mim um desejo inutilmente bafeja
As hastes das intenções, as flores do que imagino,
E tudo volta ao que era sem nada que acontecesse.

–– Ricardo Reis