13 de novembro de 2015

Os Deuses da Incerteza


Acima da verdade estão os deuses.
A nossa ciência é uma falhada cópia
Da certeza com que eles
Sabem que há o Universo.

Tudo é tudo, e mais alto estão os deuses,
Não pertence à ciência conhecê-los,
Mas adorar devemos
Seus vultos como às flores,

Porque visíveis à nossa alta vista,
São tão reais como reais as flores
E no seu calmo Olimpo
São outra Natureza.




Aguardo, equânime, o que não conheço —
Meu futuro e o de tudo.
No fim tudo será silêncio, salvo
Onde o mar banhar nada.


–– Ricardo Reis


7 de novembro de 2015

Too Young

I am young, I am twenty years old; yet I know nothing of life but despair, death, fear, and fatuous superficiality cast over an abyss of sorrow. I see how peoples are set against one another, and in silence, unknowingly, foolishly, obediently, innocently slay one another. I see that the keenest brains of the world invent weapons and words to make it yet more refined and enduring. And all men of my age, here and over there, throughout the whole world see these things; all my generation is experiencing these things with me. What would our fathers do if we suddenly stood up and came before them and proffered our account? What do they expect of us if a time ever comes when the war is over? Through the years our business has been killing;—it was our first calling in life. Our knowledge of life is limited to death. What will happen afterwards? And what shall come out of us?


Erich Maria RemarqueAll Quiet On The Western Front

1 de novembro de 2015

"Man is in the Forest"

O jovem Walter


A minha infância foi preenchida com a magia dos filmes de Walt Disney. Milhões de crianças tiveram experiências semelhantes ao longo das décadas, suponho. Admiro-lhe a arte e o engenho. No entanto, nunca tinha lido uma biografia do homem que mudou a paisagem da cultura popular Norte-americana.


Esta biografia, escrita meticulosamente por Neal Gabler, relata e comenta a vida de Walter Elias Disney, ou simplesmente, Walt, como ele insistia que os seus colaboradores o tratassem. É uma biografia honesta que navega pelos triunfos e fracassos do homem, sem nunca se esquivar ao lado mais constrangedor, ao lado mais obscuro do magnata de Hollywood.


Com mais de 800 páginas (200 de notas biográficas) não é para leigos curiosos, mas sim para os aficionados de um dos maiores génios criativos do séc. XX. Gabler descreve a infância feliz passada em Marceline, no estado do Missouri. A família Disney passou cinco anos em Marceline, onde o pai tinha uma pequena quinta.  


Walt entregou jornais em Chicago, mentiu sobre a sua idade para poder conduzir uma ambulância da Cruz Vermelha na Primeira Guerra Mundial e atirou-se de cabeça no seu sonho.



Disney, o empreendedor


Disney sempre sentira um entusiasmo pela indústria da animação. Os seus primeiros projectos levam-no à Califórnia, onde criou a sua primeira personagem, Oswald, the Lucky Rabbit. Essa foi também a sua primeira derrota, mas desse desaire nasceu a personagem que hoje o mundo conhece e adora – Mickey Mouse.


O imortal rato, baptizado pela mulher de Walt, e a quem ele próprio deu voz no grande ecrã, tornou-o famoso com o filme Steamboat Willie. No início da Grande Depressão, um dos períodos mais negros da história dos Estados Unidos, o ratinho animado enriqueceu o seu criador e deu trabalho estável a centenas de trabalhadores. Desde então, Walt Disney não parou de produzir filmes animados.



Walt e o irmão Roy

É fascinante conhecer o homem imaginativo e inspirado,  que conduziu os seus animadores por essa aventura inaudita de produzir a primeira película animada a conquistar o coração do público e o respeito dos críticos – Branca de Neve e os Sete Anões.

Disney era um perfeccionista para quem era bastante difícil de trabalhar e não tinha o costume de partilhar o palco com os seus colaboradores. Alguns dos seus empregados sentiam-se traídos pelo patrão, que não lhes dava o crédito devido nas obras em que tanto tinham trabalhado. Outros havia que tinham uma lealdade canina a Walt Disney, que lhes proporcionava todas as condições que eles desejavam para desenvolver as suas ideias, ainda que com as respeitosas distâncias. Um dos artistas conta que, quando o patrão estava no corredor, dava uma sonora tossidela e alguém gritava a famosa fala do Bambi: “O homem está na floresta”, que significava perigo iminente. 

O perfeccionista em acção


A lealdade dos seus trabalhadores foi severamente testada na infame greve de 1941, que ficou conhecida como a guerra civil da animação. Muitos artistas abandonaram o homem que consideravam injusto para com eles e com o seu trabalho. Tudo isto, numa altura em que o estúdio estava enterrado em dívidas.

Como sempre fizera, Walt Disney ignorou os seus opositores e acabou por dar a volta por cima... Apesar do sucesso de filmes como Dumbo e Cinderela, o estúdio nunca mais foi o mesmo... Walt Disney também não.


Neal Gabler não doura a pílula em relação aos dois lados de Walt Disney. Vemos claramente que o homem que inspirava os seus animadores com a sua inesgotável imaginação, engenho e perseverança; que tirava deles os melhores desenhos; que procurava constantemente melhorar os seus projectos – algo que chamava de “plusing” e que não aceitava nada menos do que a perfeição por parte de todos os seus colaboradores era o mesmo homem que tinha dificuldade em aceitar outro ponto de vista que não o seu; era paranóico em relação a comunistas e a possíveis traições por parte dos seus trabalhadores; e que tentava viver as suas fantasias contra tudo e contra todos, enlouquecendo os seus credores.

Uma dessas fantasias era a Disneylândia e o projecto da cidade futurista na Florida. De facto, após a greve de 1941, o empreendedor perdeu muito do seu entusiasmo pelos filmes animados e decidiu criar outra empresa – a WED (acrónimo do seu nome) para criar um parque temático que iria revolucionar o conceito de parques temáticos nos Estados Unidos. A WED representava um regresso às origens para Disney – uma empresa feita por poucos associados – como nos tempos em que ele e um punhado de animadores criavam as animações do rato Mickey.


Esta biografia tem inúmeras notas interessantes, e é um bom exemplo de como escrever uma biografia sem endeusar ou demonizar o homem, explorando todas as facetas da sua vida.


Disney, inspirando os seus animadores

O livro encontra-se disponível na WOOK com o título Walt Disney: The Biography





Também pode ser encontrado na Amazon, com um título ligeiramente diferente: Walt Disney: The Triumph of the American Imagination.