21 de março de 2015

Dia Mundial da Poesia



Dust If You Must



Dust if you must, but wouldn't it be better
To paint a picture, or write a letter,
Bake a cake, or plant a seed;
Ponder the difference between want and need?

Dust if you must, but there's not much time,
With rivers to swim, and mountains to climb;
Music to hear, and books to read;
Friends to cherish, and life to lead.

Dust if you must, but the world's out there
With the sun in your eyes, and the wind in your hair;
A flutter of snow, a shower of rain,
This day will not come around again.

Dust if you must, but bear in mind,
Old age will come and it's not kind.
And when you go (and go you must)
You, yourself, will make more dust.



 Rose Milligan 

13 de março de 2015

O Fundo do Sonho

Ver as coisas até ao fundo...
E se as coisas não tiverem fundo?

Ah, que bela a superfície!
Talvez a superfície seja a essência
E o mais que a superfície seja o mais que tudo
E o mais que tudo não é nada.

Ó face do mundo, só tu, de todas as faces,

És a própria alma que reflectes



Sonhar um sonho é perder outro. Tristonho
Fito a ponte pesada e calma...
Cada sonho é um existir de outro sonho
Ó eterna desterrada em ti própria, ó minha alma!

Sinto em meu corpo mais conscientemente
O rodar estremecido do comboio. Pára?...
Com um como que intento intermitente
De (...) mal-roda, estaca. Numa estação, clara

De realidade e gente e movimento.
Olho p'ra fora... Cesso. Estagno em mim.
Resfolgar da máquina... Carícia de vento
Pela janela que se abre... Estou desatento...
Parar... seguir... parar... Isto é sem fim

Ó o horror da chegada! Ó horror. Ó nunca
chegares, ó ferro em trémulo seguir!
À margem da viagem prossegue... Trunca
A realidade, passa ao lado do ir
E pelo lado interior da Hora
Foge, usa a eternidade, vive...
Sobrevive ao momento (...) vai!
Suavemente... suavemente, mais suavemente e demora
(...) entra na gare... Range-se... estaca... É agora!

Tudo o que fui de sonho, o eu-outro que tive
Resvala-me pela alma... Negro declive
Resvala, some-se, para sempre se esvai
E da minha consciência um Eu que não obtive
Dentro em mim de mim cai.




–– Álvaro de Campos