Porque é que a nossa espécie tem uma tão grande necessidade de humanizar os cães?
Há um homem que responde a esta pergunta de forma muito pragmática: a nossa necessidade de humanizar os cães deriva do efeito terapêutico que a sua presença surte em nós.
César Millán, nascido e criado no México, atravessou a fronteira para os Estados Unidos para concretizar o seu sonho de ser "o melhor treinador de cães do mundo" e descobriu que o seu sonho o levou a píncaros com os quais ele nunca havia sonhado. É a história-modelo do "sonho americano". E há qualquer coisa nesse aspecto que me desperta a curiosidade. A minha curiosidade, por sua vez, esbarrou de frente com um inúmeros detractores, que o criticavam, denominando os seus métodos "antiquados e cruéis" para com os cães que diz estar a ajudar.
O objectivo deste post não é 'endeuzar' o homem ou a sua série televisiva, mas sim analisar a questão do tratamento dos cães e da influência que o César Millán tem na sociedade actual.
César Millán não teve uma educação formal para reabilitar cães, mas observou-os e lidou com eles durante 25 anos. Não há diplomas para 'cursos' de 25 anos, é preciso que se diga.
A série que passou (até há bem pouco tempo) no National Geographic Channel e que passa na Sic Mulher, intitulada Dog Whisperer (Encantador de Cães) é um reality show que ilustra em 45 minutos o trabalho que César Millán desenvolve com os cães cujos donos lhe pedem auxílio.
César Millán não teve uma educação formal para reabilitar cães, mas observou-os e lidou com eles durante 25 anos. Não há diplomas para 'cursos' de 25 anos, é preciso que se diga.
A série que passou (até há bem pouco tempo) no National Geographic Channel e que passa na Sic Mulher, intitulada Dog Whisperer (Encantador de Cães) é um reality show que ilustra em 45 minutos o trabalho que César Millán desenvolve com os cães cujos donos lhe pedem auxílio.
A partir da primeira temporada, vários profissionais que lidam com cães (falo de veterinários, behavioristas e treinadores) condenaram as práticas de César Millán, – dizendo que as suas técnicas eram retrógradas e cruéis – desdenharam o seu status de celebridade entre os poderosos de Hollywood e escreveram cartas à National Geographic, exigindo o cancelamento do programa pelas suas práticas pouco éticas..
Claro que também há legiões que adoram César Millán, o seu programa e as suas técnicas. Os argumentos que usam para defender o encantador de cães são variados:
- os treinadores profissionais não podem criticar César Millán, pois ele não "treina" cães, ele reabilita-os;
- as suas técnicas não são violentas. Sim, ele toca fisicamente nos animais, mas não para os magoar. O toque serve para distrair os cães do seu estado obsessivo. O toque no pescoço imita a boca de outro cão, pois é desta forma que os cães se corrigem uns aos outros;
- sem a sua ajuda, muitos donos seriam forçados a abater os seus animais, aconselhados por veterinários e treinadores.
Eu vejo o Encantador de Cães há pouco menos de um ano. Não, não é muito tempo, mas é suficiente para formar uma opinião sobre o programa. Verifiquei que os donos dos animais recorrem a ele como último recurso; porque entretanto, já tentaram resolver o problema de inúmeras outras maneiras e como muitos outros treinadores que lhes recomendaram que abatessem os seus animais.
Nunca vi as suas técnicas como desumanas, nem cruéis. Firmes, sim. A sua atitude de enfrentar o problema sem rodeios agrada aos donos e enfurece os treinadores, que insistem que o confronto é só a pior maneira de resolver qualquer problema comportamental. Ele trabalha com uma calma que consegue comunicar aos animais e ensina os donos a imitá-la.
A maioria das pessoas tem uma natureza bondosa e só quer o melhor para os seus animais, mas a verdade é que a grande maioria das pessoas não sabe comunicar com os seus cães e humaniza-os, pensando que eles raciocinam como os donos, daí os problemas comportamentais.
Nunca vi as suas técnicas como desumanas, nem cruéis. Firmes, sim. A sua atitude de enfrentar o problema sem rodeios agrada aos donos e enfurece os treinadores, que insistem que o confronto é só a pior maneira de resolver qualquer problema comportamental. Ele trabalha com uma calma que consegue comunicar aos animais e ensina os donos a imitá-la.
A maioria das pessoas tem uma natureza bondosa e só quer o melhor para os seus animais, mas a verdade é que a grande maioria das pessoas não sabe comunicar com os seus cães e humaniza-os, pensando que eles raciocinam como os donos, daí os problemas comportamentais.
Em todos os episódios que vi, César Millán tem uma filosofia fixa, mas um método de trabalho que adequa especificamente ao animal que está a reabilitar. As suas técnicas baseiam-se em conquistar a confiança e o respeito dos cães e, pelo que vejo em todos os episódios, são esses sentimentos que os cães retribuem.
Já ouvi opiniões de pessoas que não concordam com o facto de ele confrontar os animais com os seus medos e com tudo o que desencadeia os comportamentos dos quais os donos se queixam. Isso é algo que parece enfurecer os treinadores que usam métodos com recompensas (comida) para os distrair de um mau comportamento. Acredito que essa técnica funciona, mas será que funciona para todos os problemas comportamentais de todos os cães?
Pelo que dizem alguns, não. Certos comportamentos caninos não se resolvem com uma distracção em forma de biscoito. Já vi várias vezes como é que César Millán toca nos cães: eles ficam desorientados por uns segundos, (claramente, por nunca ninguém lhes ter feito aquilo) mas nunca demora muito tempo até que eles encontrem o seu "norte". Não vejo qualquer crueldade nesse acto, nem sequer em puxar a trela para o lado – quando todos os donos de cães se debatem em puxar as trelas dos seus próprios cães, muitas vezes temendo que os animais sufoquem ou que lhes aconteça qualquer outra coisa.
César Millán usa o toque com a mão e com a trela, pondo o bem-estar do cão à frente do seu "ego". Quando o cão age mal, ele corrige-o. Quando o cão age bem, ele recompensa-o com afecto. Chamar-lhe "retrógrado" pelas técnicas que ele usa com os cães parece-me errado, porque ele age de forma intuitiva com eles, não os humanizando como fazem os seus donos. Quando ele fala com os donos sobre os problemas que eles estão a enfrentar, ele usa sempre um vocabulário simples e honesto. Será por isso também que há quem não goste dele? Por não usar termos com que a comunidade científica se identifique? Compreendo a estranheza dos académicos em relação a termos simples, mas esse facto não faz de César Millán um "vendedor de banha da cobra".
Ao observar a linguagem corporal dos cães durante os episódios, só posso concluir que os animais não se sentem intimidados, nem receosos pelos métodos que o César usa. Também os donos entendem que os métodos de César servem para reabilitar os cães, não para os maltratar. Talvez isto se deva ao facto de verem o homem conquistar a liderança com os cães sem sequer lhes tocar, focando-se em energia, intenção e visualização de um objectivo final; talvez os donos fiquem surpreendidos quando César diz que eles estão tensos, quando nem eles mesmos se apercebem do efeito negativo que têm sobre os seus animais.
Já li na web que o César foi processado uma vez por deixar um ajudante do Centro de Psicologia Canina tratar de um dos cães. O animal morreu e César foi processado. Embora seja de opinião que o César deve ser responsabilizado pelo que aconteceu no Centro, não vejo um processo judicial como prova cabal da incompetência do homem. Nos Estados Unidos basta pisar solo para se ser processado. Se um processo judicial fosse mesmo uma prova cabal, o National Geographic Channel não teria dado um espaço na sua grelha de programas ao Dog Whisperer! Seria forçado a cancelá-la por ordem dos executivos ou por queixas indignadas dos telespectadores.
Já vi em alguns episódios do Dog Whisperer treinadores de cães e tratadores de canis pedirem a ajuda de César Millán, portanto se vê que não é toda a gente que discorda dos seus métodos. Esses não se importam com o facto de César não ter uma educação formal, focando-se no estado em que os cães ficam depois de ele os reabilitar. Não será esta uma forma mais positiva de estar? Sei bem o que é estudar na faculdade e, por isso, estou plenamente consciente que tal facto não me torna infalível no meu trabalho. Será que os treinadores profissionais e os Behavioristas académicos que discordam dos métodos de César Millán se acham infalíveis e incapazes de subjectividade?
Em todos os episódios que vi, não houve um que não tivesse um aviso explícito de cada vez que César começava a reabilitar um cão: "Não experimente estas técnicas sem consultar um profissional." Não creio que este aviso exista exclusivamente sob o pretexto de evitar processos judiciais contra César Millán. Penso que está lá porque, por muito que se veja o programa e que se leia os livros, não significa que seja competente numa reabilitação – muitos são os clientes de César que viram todos os episódios e leram todos os livros e, ainda assim, não conseguem resolver os problemas com os seus cães.
As palavras que César usa parecem simples, mas não acho que sejam fáceis de perceber, o que torna as suas técnicas perigosas de pôr em prática nas mãos de leigos, sem supervisão profissional. Ironicamente, isto vai ao encontro dos avisos repetidos durante cada episódio do Dog Whisperer. Os profissionais e os académicos são livres de pensarem o que quiserem sobre as práticas de César Millán mas, se há coisas que não percebo nesta discussão, é como podem eles criticar tudo?! Não acham boa a ideia de que todos os cães podem ser reabilitados? Não acreditam que os cães precisam de exercício e disciplina? Não acham boa ideia adoptar um cão, em vez de comprá-lo numa loja de animais? Não acham boa ideia reduzir o número de animais abandonados? Não acham boa ideia responsabilizar os donos e não os cães pelo crescente número de ataques a que temos vindo a assistir? Não acham boa ideia de não "demonizar" e descriminar raças inteiras com base em notícias sensacionalistas?
Se eu estivesse no ramo, nunca condenaria o homem por tentar ajudar os cães e os seus donos e por passar mensagens positivas sobre o tratamento dos animais, por muito que discordasse das suas técnicas.
Pelo que dizem alguns, não. Certos comportamentos caninos não se resolvem com uma distracção em forma de biscoito. Já vi várias vezes como é que César Millán toca nos cães: eles ficam desorientados por uns segundos, (claramente, por nunca ninguém lhes ter feito aquilo) mas nunca demora muito tempo até que eles encontrem o seu "norte". Não vejo qualquer crueldade nesse acto, nem sequer em puxar a trela para o lado – quando todos os donos de cães se debatem em puxar as trelas dos seus próprios cães, muitas vezes temendo que os animais sufoquem ou que lhes aconteça qualquer outra coisa.
César Millán usa o toque com a mão e com a trela, pondo o bem-estar do cão à frente do seu "ego". Quando o cão age mal, ele corrige-o. Quando o cão age bem, ele recompensa-o com afecto. Chamar-lhe "retrógrado" pelas técnicas que ele usa com os cães parece-me errado, porque ele age de forma intuitiva com eles, não os humanizando como fazem os seus donos. Quando ele fala com os donos sobre os problemas que eles estão a enfrentar, ele usa sempre um vocabulário simples e honesto. Será por isso também que há quem não goste dele? Por não usar termos com que a comunidade científica se identifique? Compreendo a estranheza dos académicos em relação a termos simples, mas esse facto não faz de César Millán um "vendedor de banha da cobra".
Ao observar a linguagem corporal dos cães durante os episódios, só posso concluir que os animais não se sentem intimidados, nem receosos pelos métodos que o César usa. Também os donos entendem que os métodos de César servem para reabilitar os cães, não para os maltratar. Talvez isto se deva ao facto de verem o homem conquistar a liderança com os cães sem sequer lhes tocar, focando-se em energia, intenção e visualização de um objectivo final; talvez os donos fiquem surpreendidos quando César diz que eles estão tensos, quando nem eles mesmos se apercebem do efeito negativo que têm sobre os seus animais.
Já li na web que o César foi processado uma vez por deixar um ajudante do Centro de Psicologia Canina tratar de um dos cães. O animal morreu e César foi processado. Embora seja de opinião que o César deve ser responsabilizado pelo que aconteceu no Centro, não vejo um processo judicial como prova cabal da incompetência do homem. Nos Estados Unidos basta pisar solo para se ser processado. Se um processo judicial fosse mesmo uma prova cabal, o National Geographic Channel não teria dado um espaço na sua grelha de programas ao Dog Whisperer! Seria forçado a cancelá-la por ordem dos executivos ou por queixas indignadas dos telespectadores.
Já vi em alguns episódios do Dog Whisperer treinadores de cães e tratadores de canis pedirem a ajuda de César Millán, portanto se vê que não é toda a gente que discorda dos seus métodos. Esses não se importam com o facto de César não ter uma educação formal, focando-se no estado em que os cães ficam depois de ele os reabilitar. Não será esta uma forma mais positiva de estar? Sei bem o que é estudar na faculdade e, por isso, estou plenamente consciente que tal facto não me torna infalível no meu trabalho. Será que os treinadores profissionais e os Behavioristas académicos que discordam dos métodos de César Millán se acham infalíveis e incapazes de subjectividade?
Em todos os episódios que vi, não houve um que não tivesse um aviso explícito de cada vez que César começava a reabilitar um cão: "Não experimente estas técnicas sem consultar um profissional." Não creio que este aviso exista exclusivamente sob o pretexto de evitar processos judiciais contra César Millán. Penso que está lá porque, por muito que se veja o programa e que se leia os livros, não significa que seja competente numa reabilitação – muitos são os clientes de César que viram todos os episódios e leram todos os livros e, ainda assim, não conseguem resolver os problemas com os seus cães.
As palavras que César usa parecem simples, mas não acho que sejam fáceis de perceber, o que torna as suas técnicas perigosas de pôr em prática nas mãos de leigos, sem supervisão profissional. Ironicamente, isto vai ao encontro dos avisos repetidos durante cada episódio do Dog Whisperer. Os profissionais e os académicos são livres de pensarem o que quiserem sobre as práticas de César Millán mas, se há coisas que não percebo nesta discussão, é como podem eles criticar tudo?! Não acham boa a ideia de que todos os cães podem ser reabilitados? Não acreditam que os cães precisam de exercício e disciplina? Não acham boa ideia adoptar um cão, em vez de comprá-lo numa loja de animais? Não acham boa ideia reduzir o número de animais abandonados? Não acham boa ideia responsabilizar os donos e não os cães pelo crescente número de ataques a que temos vindo a assistir? Não acham boa ideia de não "demonizar" e descriminar raças inteiras com base em notícias sensacionalistas?
Se eu estivesse no ramo, nunca condenaria o homem por tentar ajudar os cães e os seus donos e por passar mensagens positivas sobre o tratamento dos animais, por muito que discordasse das suas técnicas.
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