8 de dezembro de 2014

El Quarteto Fantástico

Books Within Books about Books

Carlos Ruiz Zafón

Este homem escreveu uma série de romances sobre o único cemitério que eu daria um braço e uma perna para visitar: o Cemitério dos Livros Esquecidos. Um enorme santuário, escondido dos comuns mortais, sob da cidade de Barcelona, onde todos os livros são salvos do esquecimento; um local mágico e misterioso onde só alguns "escolhidos" podem entrar. 





Este foi o primeiro livro que Zafón escreveu porque queria realmente fazê-lo. Foi assim que o autor descreveu o processo sob o qual apareceu A Sombra do Vento. Um romance que é uma mistura de história de detectives, aventuras juvenis, história de amor, fantasia e horror gótico. Desta mescla, desenha-se uma história com um enredo complexo e fascinante e irresistível para o leitor, que o faz descobrir ou re-descobrir algo sobre livros em cada uma das suas páginas.

Um livro resgatado do esquecimento eterno, um vilão que fuma cigarros enrolados em páginas dos livros que confisca, um polícia corrupto, um soldado alcoólico – que combateu na Guerra Civil Espanhola – salvo pelo jovem protagonista, a redenção de um escritor maldito, etc., estes são ingredientes encantadores para um livro como A Sombra do Vento. Um livro sobre livros, sobre o poder da leitura, sobre os leitores, sobre a magia que é a literatura, sobre o feitiço que ela lança sobre nós e sobre a forma como ela nos transforma. 

A crítica literária caracteriza este romance como um Bildungsroman, ou seja, um romance de formação, que acompanha o jovem protagonista Daniel Sempere desde menino até à idade adulta. Sendo este livro sobre a própria literatura, há que prestar-lhe homenagem lendo-o com todo o vagar, marcando as nossas passagens favoritas, relendo-as até as sabermos de cor… 

A Sombra do Vento é um livro dentro de um livro, visto ser o título do livro pelo qual Daniel Sempere se apaixona, após resgatá-lo do recôndito Cemitério dos Livros Esquecidos. Nunca percebemos exactamente o motivo pelo qual Daniel gosta tanto do livro da autoria de Julián Carax, mas também não é um dado fundamental para que a narrativa seja bem-sucedida. 

Neste romance em que o vento assobia como se de uma pessoa se tratasse, há alguns factos que são perdoáveis (dada a extraordinária prosa do autor), como a verdadeira identidade de Laín Coubert. Nunca tive dúvidas de quem se tratava realmente esta misteriosa e soturna personagem.

Acima de tudo, esta é a história de como Daniel Sempere se transforma por completo após a sua primeira visita ao Cemitério dos Livros Esquecidos; esse é o dia em que ele se despede da sua meninice e se transforma num homem. É nesse da que ele se começa a preocupar com algo exterior a si próprio – um livro – e a protegê-lo com a sua própria vida contra o Diabo.  Desde aí, a coragem de Daniel de enfrentar os demónios do seu ídolo e a sua bravura em enfrentar Fumero, salva-o de uma morte certa, (física e espiritual) bem como ao seu ídolo Carax.




Segundo o seu autor, este é o romance mais estranho e sombrio da tetralogia. É um livro sobre um idealismo que, de tão desesperado e por tanto embater na crueldade do mundo, como uma onda contra uma rocha, se estilhaça e acaba por sacrificar o coração que habita. É isto que acontece ao protagonista David Martín, um jovem escritor traído pelo seu melhor amigo, apaixonado pela mulher errada e desesperado por escrever o melhor livro jamais existente na história da literatura. Andreas Corelli, um misterioso editor parisiense, está de olho no jovem escritor de Barcelona e consegue convencê-lo a escrever um livro que irá mudar para sempre a face da literatura. Mas por que preço?

Grandes Esperanças de Dickens tem um papel preponderante neste romance e tem alguns elementos em comum com ele: a ambição e o desejo do indivíduo se aperfeiçoar. David Martín sobrevive sob um pseudónimo como autor de histórias serializadas e é amado pelo seu público. Quando re-escreve o livro do seu mentor é adorado pela crítica literária. Quando escreve um romance sob o seu próprio nome é odiado por todos. As lutas de um escritor nada têm de justas, bem se sabe! Quando Martín está nas suas últimas forças, Corelli aparece para lhe fazer "uma proposta que ele não pode recusar". Quem é este enigmático editor? Será um anjo? Ou o próprio Diabo?

Este livro tem várias leituras, várias interpretações e abre várias portas no nosso pensamento. Mas uma pergunta importante fica no ar no final do romance: este facto faustiano é para ser levado à letra ou é para ser entendido como uma metáfora sobre a inerente loucura do nosso protagonista?

À parte do próprio romance, a ideia de um editor acercar-se de um escritor jovem e ambicioso e convidá-lo a escrever um livro que faça com que as pessoas se queiram matar umas às outras e se queiram sacrificar por uma nova religião, faz-me lembrar aquele maldito austríaco com aquele bigode rizível que escreveu aquele livro… bem, vocês sabem, que mergulhou o mundo na Segunda Guerra Mundial.






O Prisioneiro do Céu é o terceiro romance da saga do Cemitério dos Livros Esquecidos. Daniel Sempere regressa às nossas vida, na companhia da sua mulher e do seu filho e também do seu amigo Fermín Romero de Torres. É esta enigmática e pitoresca personagem que narra este terceiro romance, pois é neste livro que descobrimos o passado nebuloso de Fermín. Tudo começa quando um homem misterioso entra na livraria Sempere & Filhos e deixa uma mensagem para Fermín que diz: "Para o Fermín Romero de Torres, que regressou dos mortos e detém a chave do futuro.

Neste livro, reencontramos David Martín, o protagonista ro romance anterior de Zafón, que está preso no Castelo de Montjuïc, onde Fermín também se encontra, preso sob o regime opressivo de Franco. A aparição inesperada de David Martín obriga-nos a reler O Jogo do Anjo e A Sombra do Vento, porque estes dois homens que se tornam grandes amigos quando estão presos no castelo e a sua amizade iria condicionar os dois romances anteriores, tanto para nós como para Daniel Sempere. 

A história termina em suspense, com um misterioso homem colocando um envelope igualmente misterioso numa campa para Daniel encontrar

E ficamos à espera do quarto livro, o último da tetralogia...



Eis aqui ema grande entrevista com o autor, enquanto esperamos pelo quarto livro:

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