6 de janeiro de 2022

30 anos de Pedra Sobre Pedra


Em memória do actor Armando Bógus (1930-1993) e de Eva Wilma (1933-2021)

Pedra sobre Pedra! Por muitas voltas que dê ao pensamento, não consigo discernir qual "o ingrediente secreto" que me faz voltar a esta novela uma e outra vez.

É um daqueles casos em que todas as linhas que constituem o novelo da trama se entrecruzam numa harmonia perfeita. Todos os núcleos eram cativantes e relevantes e tinham personagens por quem eu torcia (para o bem ou para o mal). De algumas não gostava, mas nenhuma me era indiferente.

Como é hábito nas tramas de Aguinaldo Silva, "Pedra Sobre Pedra" desenrola-se na fictícia cidade de Resplendor, no interior baiano, onde que o autor espelha um microcosmos do Brasil. A cidadezinha, que já foi considerada por muitos como a capital mundial dos diamantes, é palco de guerra para duas poderosas famílias que há séculos disputam o poder político – os Pontes e os Batista. 

Após 25 anos de ausência, Murilo Pontes (Lima Duarte) regressa a Resplendor, disposto a uma trégua com a sua maior rival, Pilar Batista (Renata Sorrah), ciente de que a cidade corre o perigo de cair nas mãos do forasteiro Cândido Alegria (Armando Bógus) nas eleições que se avizinham. O deputado pede à sua rival que apoie a candidatura do seu filho Leonardo (Maurício Mattar) à prefeitura, mas Pilar ri na sua cara, garantindo-lhe que, não só não haverá uma aliança entre os dois, como será a sua filha Marina (Adriana Esteves) a próxima prefeita de Resplendor.

Longe desta rivalidade feroz, um comboio traz Leonardo Pontes e Marina Batista de volta a Resplendor após longos anos de ausência. Os dois trocam olhares dentro do comboio e, nesse mágico quinto de segundo que demorou para eles se apaixonarem, não houve tempo para nenhum deles descobrir que pertenciam a famílias inimigas! Numa gruta, a caminho da sua cidade natal, eles apresentam-se e, após sucumbirem à atracção que sentem um pelo outro, ficam presos devido a uma explosão. Não passa muito tempo até que a verdade vem à tona e eles descobrem o passado de ódio que une (ou separa?) as suas famílias. O romance não é mais imediato  afinal, eles foram "envenenados" pelos pais durante anos – mas é forte e acaba por vencer, e eles dão início ao fim da rivalidade entre Batistas e Pontes.

E é nestes termos, neste constante contraponto entre os pais e os filhos, que a trama se desenrola. Mas, ao contrário de todas as outras novelas que já vi, as tramas paralelas eram tão interessantes quanto a trama principal.


Murilo Pontes


"Toco a vida pr'á frente, fingindo não sofrer..."

O deputado Murilo Pontes fez uma carreira política brilhante em Brasília e, enquanto isso, passou vinte e cinco anos a tentar enterrar o seu passado. Em vão, claro! Casou, teve um filho, tem uma amante, mas nada mudou. A paixão tórrida por Pilar Batista fermentou durante 25 longos anos e o seu único escape são as constantes lutas que os dois travam em nome da candidatura dos filhos à prefeitura de Resplendor. 



A actuação de Lima Duarte

Não foi a primeira vez que vi uma actuação de Lima Duarte, mas ainda não vi outra que me cativasse mais do que esta. Foi, sem dúvida, o melhor actor para interpretar este papel; a personagem exigia um grande machismo, mas também a vulnerabilidade de um coração destroçado por um amor que não conseguiu concretizar e o Lima viveu o Murilo Pontes com a perícia de um verdadeiro mestre da interpretação.


Murilo Pontes e Pilar Batista




O amor explosivo entre Pilar e Murilo é uma força que nem eles, por muito que tentem, conseguem esconder ou esquecer. Uma paixão sufocada por um terrível e orgulhoso mal-entendido que se transformou em ódio. Teria sido tudo tão simples de remediar: mas o orgulho venceu o amor e, em vez de conversarem e esclarecerem o mal-entendido, esconderam-se atrás dele. Chegava a ser doloroso vê-los em guerra constante, sabendo que a todo o instante estavam a milímetros de um longo beijo...


Pilar Batista

"eu penso no que sou e o que fiz
no desejo de te amar"

Apesar de não ser uma Batista de sangue, Pilar carrega o sobrenome do marido com muito orgulho e usa-o como arma contra o seu maior inimigo, Murilo Pontes. Tem um instinto maternal apuradíssimo e apercebe-se imediatamente que a filha está diferente quando regressa a Resplendor. A única coisa que a move é eleger a sua filha prefeita da cidade para poder esfregar na cara de Murilo Pontes que os Batista são superiores e cumprir assim o juramento de ódio que lhe havia feito vinte e cinco anos atrás.


Leonardo Pontes

"Esse amor já conhece o segredo,
o caminho do seu coração."

O jovem herdeiro dos Pontes foi mandado para São Paulo para estudar Direito, mas acabou por se licenciar em Engenharia de Minas (a sua vocação). Passou tanto tempo longe do pai que não foi "envenenado" pelo ódio entre os Pontes e os Batistas. Ele é o primeiro a ver a dimensão da estupidez daquela rixa entre famílias e é ele que tenta convencer Marina disso mesmo. Leonardo quase sucumbe ao ódio, mas só porque os mal-entendidos o afastam por algum tempo dos seus verdadeiros sentimentos por Marina.



Marina Batista

"Muito tempo atrás me destinaram a ser
Herdeira de um mal que não fiz"
A jovem herdeira dos Batista estudou Sociologia Política em França. Passou anos a fio longe de casa e longe das influências da mãe mas, ainda assim, foi muito "envenenada" pelo ódio que a mãe sente por Murilo Pontes. Quando pergunta à mãe porque é que ela e Leonardo têm de se odiar, a mãe responde-lhe "Porque eu quero e o pai dele também!" De facto, não há outro motivo a não ser que esta rivalidade se trata de uma tradição entre as duas famílias. Apesar de todas as dificuldades por que passa com Leonardo, os dois conseguem dar uma grande lição aos seus pais. E a toda a gente!



Leonardo Pontes e Marina Batista



Os "herdeiros do ódio" como eu costumo chamá-los. Sim, eles foram "envenenados" pelos pais, mas quando se viram pela primeira vez naquele comboio de volta a casa, estavam fadados a viver um sentimento mais nobre. O fim deste aparente romance (ou o início) foi quando Marina descobriu quem era o rapaz por quem se tinha apaixonado. Por entre voltas e reviravoltas, há uma mochila (a de Leonardo) que serve de motivo para um mal-entendido que quase destrói a relação entre os dois. Outro mal-entendido é a questão das carreiras políticas dos dois apaixonados que, supostamente, deveriam concorrer um contra o outro. Os dois não conseguem esconder o amor intenso que sentem um pelo outro por detrás daquele verniz de ódio e de desprezo. Felizmente, os filhos triunfam onde os pais falharam. Aqui é o amor que vence o orgulho e os egos feridos pelos mal-entendidos.



Dona Quirina Batista (Myrian Pires)



Com toda a sabedoria dos seus 121 anos, a Dona Quirina dorme com "uma orelha em pé". Sabe mais a dormir do que todas as outras personagens acordadas. Os seus conhecimentos centenários permitem-lhe ter uma perspectiva muito abrangente e correcta de tudo o que se passa na cidade – e principalmente na mansão dos Batista. Apesar das suas constantes 'indirectas' para espicaçar Pilar em relação a Murilo, ela admira muito o espírito da mulher do se neto, Jerónimo. Ela é, a bem dizer, a história viva daquele Brasil que Aguinaldo quer retratar na sua trama. "Êta, que mulher porreta!"



Hilda Pontes


Hilda era a personagem com mais classe e maior generosidade desta trama. Sempre foi perdidamente apaixonada por Murilo Pontes, mas o deputado nunca conseguiu retribuir o sentimento. Hilda casou-se com ele e constituiu família sabendo que o coração do seu amado nunca lhe pertenceria. Se havia personagem que não merecia sofrer nesta novela era ela, mas o seu amor por Murilo fê-la sofrer muito. Além de competir com Pilar pelo amor do marido, ainda tinha de competir com a amante com quem ele se encontra no Grémio Recreativo. É uma das personagens que mais cresce durante a trama. 



Gioconda Pontes (Eloíza Mafalda)



A beata mais cínica e intriguista da teledramaturgia brasileira! Vive para destilar o seu veneno em toda a gente, sob uma capa de mulher temente a Deus. Como ela mesma diz, "tem olhos de lince, nada lhe escapa". Possui a língua mais afiada de Resplendor, passa a vida a escutar atrás das portas e como mãe, é melhor nem falar! Parece que só está bem a espicaçar toda a gente, especialmente a cunhada, que acusa de se ter aproveitado do facto de Murilo ter sido rejeitado e estar carente para se aproveitar e casar com ele. 



Úrsula Pontes (Andréa Beltrão) 



Uma das pessoas com coração bondoso de Resplendor. Casou com Diamantino para fazer a vontade à mãe, mas nunca teve um momento de felicidade com o marido. A sua paixão (correspondida) por Jorge Tadeu muda completamente a sua vida. Depois da morte do fotógrafo, Úrsula tenta mil e uma coisas para o trazer de volta. E a força do seu amor vence a própria Morte!



Rosemary Pontes (Elizângela) 




"Feliz era Eva que não tinha sogra." Este era o mote da mulher de Ivonaldo. Com um sogra como Gioconda, quen pode censurá-la? É uma mulher "chiquérrima, plena e absoluta", que se envolve com o fotógrafo Jorge Tadeu. Era uma mulher com sangue na guelra que dizia ao marido quando estava furiosa: "Be pátiente o escambau, que eu 'tou out of my mind!"



Carlão Batista (Paulo Betti)



Gasta a vida a beber e a está enterrado em dívidas até ao pescoço. A cunhada Pilar diz que ele é a desgraça da família Batista. A nada ajuda o facto de ele ser o dono do Grémio Recreativo de Resplendor. Entre bebidas e jogo, o pobre 'banana' até faz o impensável: apaixona-se por uma cigana: Vida. Esta paixão muda por completo o seu destino. Ou talvez o seu destino sempre tivesse sido esse...



Francisquinha Queiroz (Arlete Salles) 



A Dona Francisquinha era o "homem" de Resplendor. Era ela que impunha a ordem e a lei na cidade e nos arredores. "Delegado é meu marido!" gostava ela de dizer a toda a gente que a chamava de "delegada". Mas os Resplendorinos tratavam-na assim porque sabiam que o seu marido era um "frouxo" que não tinha a sua mão de ferro. A Dona Francisquinha adorava zelar pela moral e os bons costumes e a sua vítima preferida era o fotógrafo Jorge Tadeu. Tinha uma mente muito activa e muito perspicaz para todo o tipo de crimes que aconteciam em Resplendor. Como ela mesma dizia, ela só "quer que a lei se cumpra, doa a quem doer". Para ela, não há crime algum que não possa ser resolvido e punido. E ninguém como ela conseguia deslindar os crimes mais complexos de Resplendor.



Kleber Vilares (Cecil Thiré)





Actual prefeito de Resplendor, que só assim é por ser apoiado por Murilo Pontes. Sabe que tem os seus dias contados na Prefeitura devido ao regresso de Leonardo Pontes a Resplendor. Dentista por profissão, vocação e implicação (porque, quando alguém lhe diz alguma coisa que ele não gosta, ele ameaça usar a sua temida broca de dentista para fazer dolorosas destartarizações). Ele implica especialmente com Sérgio Cabeleira sobre os misteriosos gritos de cada noite de lua cheia. Corrupto que é, é também um vira-casacas sem remédio e acaba fugido da cidade depois de um desfalque.  




Diamantino (Ênio Gonçalves) 





Farmacêutico, separado de Úrsula Pontes (sem divórcio passado, porque a Dona Gioconda nunca o permitiria), mas eternamente apaixonado por Pilar Batista. Que mais há a dizer? O coitado do Diamantino dava-me pena; ninguém merece sofrer assim por amor, mas quem ama sofre sempre muito, não é? Como ele mesmo dizia: "Coisas do coração são assim mesmo: não há remédio na minha farmácia que cure; aliás, nem há doente que deseje mesmo se curar". Mas o destino foi misericordioso com ele e ele teve um final feliz no fim da novela!



Yago (Humberto Martins) 



O chefe da tribo cigana que é "faz tudo" do vilão Cândido Alegria. É uma personagem trágica; o todo-poderoso líder dos ciganos que se enreda em armadilha após armadilha: primeiro cai nas garras do bandido que o deixa ficar com a tribo nas suas terras a troco da exploração do solo em busca do famoso lençol de diamantes; depois, envolve-se com a sonsa Eliane, que lhe faz o resto da vida negra. Teve o final mais trágico da novela. 



Vida (Luíza Thomé) 



A cigana Vida é uma figura quase mítica do acampamento cigano. Nos primeiros capítulos, aparecia somente a sua mão (recheada de anéis) e ela aparecia e desaparecia misteriosamente de cena, quase como um espírito desencarnado. Na sua tribo não tinha voz, devido à rejeição do noivo escolhido pelo seu irmão Yago. Mas sempre disse que "preferia ficar muda do que falar com voz emprestada".  Ela também advoga a escolha do seu próprio destino, por oposição a um imposto por qualquer outro – um acto de coragem para uma cigana! O seu romance com Carlão Batista é alvo de muitas críticas e muitas dúvidas, mas no final da história eles conseguem superar todos os obstáculos.



Lola (Tânia Alves) 




É uma das moças do Grémio Recreativo. Irmã do Sérgio Cabeleira, que está sempre do lado do irmão nas noites de lua cheia. Ela sofre tanto como o irmão por não o conseguir ajudar como ele precisa. Ela própria parece viver uma vida condenada de fome de amor, ansiando cada migalha de carinho que Murilo lhe dá. Anseia por um amor que o deputado não pode dar-lhe por motivos óbvios. Mas consegue encontrar um homem que a faz feliz e acaba a trama nos braços de Ernesto.





Sérgio Cabeleira (Osmar Prado) 



Um merceeiro inocente e bondoso, acometido por uma terrível maldição. Graças a um disparate materno, o pobre tinha a lua por madrinha e todos meses, na primeira noite de lua cheia, ela vinha buscá-lo e ele tinha de se trancafiar numa jaula. Por algum tempo, o Amor liberta-o do feitiço, mas ele não consegue resistir ao seu destino. 





Jorge Tadeu (Fábio Jr.)



O galã por excelência! Um geólogo contratado por Pilar Batista para encontrar o famosíssimo "lençol de diamantes". Chegou a Resplendor como fotógrafo e começou a espalhar brasas entre as mulheres casadas e o caos entre os maridos delas. A verdade é que nenhuma delas lhes resiste. Fazem tudo por ele. Tudinho mesmo! Mas é por Úrsula Pontes que ele se apaixona e é graças a esse amor que ele vence a própria Morte!



Cândido Alegria (Armando Bógus)



Ganância, vingança e poder – a santíssima trindade do nosso vilão… E como todo o bom vilão, ele é omnipresente e omnisciente, tal qual uma força demoníaca! O "hoteleiro de meia pataca", o "traque de botas", o "bicho de pé", como diz Murilo Pontes; "o borra-botas" como diz Pilar Batista é o grande vilão da trama. Este sujeito sinistro não se contentava com nada que não fosse o máximo que ele pudesse roubar ou ururpar. Ele é a mão invisível que comanda todas as desgraças desta trama. Ele e a sua filha (que não sabe que é) são os catalisadores dos acontecimentos mais importantes da novela. O mineiro tinha uma ambição desmedida de poder e riqueza. É dono das terras onde se situa o lençol de diamantes. Sempre foi apaixonado por Pilar Batista desde o tempo que trabalhava para os Batista como ferreiro. Tem um dos finais mais surpreendentes da teledramaturgia brasileira!



Eliane (Carla Marins) 




Por detrás da gratidão que ela tem a Pilar por tê-la acolhido em sua casa após a morte da mãe, esconde a mesma natureza cínica e dissimulada do pai. Aliás, é ele mesmo que planta a semente da maldade da menina, quando lhe diz quem é o pai dela – sem saber que é ele mesmo. Depois de uma discussão violenta com Pilar Batista por nunca lhe contar a história sobre o seu pai, Eliane muda-se para a casa dos Pontes. Sem surpresas, o fazendeiro recusa-se a aceitá-la como filha e, com a ajuda de Rosemary, ela consegue descobrir que é, de facto, filha de Cândido Alegria.



Ximena Vilares (Nívea Maria) 



Mulher de Kleber e Primeira-Dama de Resplendor. Melhor amiga de Suzana Frota. É uma mulher portuguesa que também passa diante da máquina fotográfica de Jorge Tadeu. Como "viúva" do fotógrafo, ela também come da flor da árvore do Espanto. 



Suzana Frota (Isadora Ribeiro) 




Mulher jovem, casada com o velho Frota, que não aguentou e teve um "treco", err, quer dizer, um AVC e viveu toda a trama acamado, "vegetando feito um quiabo". É a melhor amiga de Ximena e sua compincha; se bem que também é sua rival no que toca aos retratos que tira com Jorge Tadeu. 



Alva (Lilia Cabral)



Trabalha no Grémio Recreativo Resplendorino, mas sempre sonhou em sair de lá. Não tem escrúpulos nem pena das outras moças que com ela trabalham. Tem o estranho hábito de roubar todas as bugigangas que encontra, pois acha que pode enriquecer um dia à conta delas.  



Adamastor (Pedro Paulo Rangel)


Administrador de facto do Grémio Recreativo. Toda a cidade sabe que ele não é o dono do estabelecimento. Esbanja bondade para as moças que lá trabalham e, especialmente, para o amigo de infância, Carlão Batista, que o trata como um cão sarnento. A palavra 'homossexual' nunca é dita durante a novela, mas como diz o povo, "para bom entendedor meia palavra basta". 




Ivonaldo Pontes (Marco Nanini)


O deputado substituto que regressou de Brasília no início da trama, ou da 'corte', como ele mesmo lhe chama. As mulheres da sua vida infernizam-no a toda a hora: a mãe (que o trata como um garoto irresponsável e lerdo) e a esposa (que o trai e lhe dá surras de toalha molhada). Aos poucos, vai ganhando a sua independência… Bem, depois de ser chifrado pela mulher com um defunto, o homem nunca mais poderia ser o mesmo…!




Jerusa (Tereza Seiblitz) 

Criada na casa dos Pontes desde criança. É filha de Heraldo, o capanga de Murilo Pontes. A sua relação com a sua tia Lola e com o seu tio Sérgio Cabeleira são complicadas, devido ao ódio que o pai tem dos dois familiares. Mas esse sentimento não passa para a menina que, embora passe o diabo nas mãos da megera Gioconda Pontes, apaixona-se pelo jovem Ulisses, o filho do delegado.   




Padre Otoniel (Antônio Pompêo)  

O verdadeiro padre enviado para Resplendor para tomar conta da paróquia. Não há terra que mais precise deste bom pastor, mas a sua chegada ficou cheia de controvérsias. Logo que dá de caras com Gioconda Pontes, a sua vida transforma-se num inferno. Paradoxalmente, ele e a sua igreja transforma-se num porto seguro para os dois filhos das famílias rivais. Marina e Leonardo encontram no padre um ombro amigo e um grande aliado.




Delegado Francisco Queiroz (Nelson Xavier) 

Francisco Queirós é o delegado de Resplendor. Pelo menos, em nome. Os cidadãos resplendorinos reconhecem que, apesar da sua autoridade, é a sua esposa que toma conta da delegacia da cidade. O seu casamento é uma fachada que ele alimenta, apesar da vida dupla que faz com Nice.




Tíbor (Eduardo Moscovis) 

Tíbor é um jovem cigano, sobrinho de Yago e de Vida. Está a aprender as tradições do seu povo e é muitas vezes rechaçado pelas meninas da cidade por "cheirar mal" e pela sua etnia. Sendo adolescente, Tíbor é muito sensível a estas críticas e revolta-se contra as tradições do seu povo e da sua tribo, indo contra as ordens do tio. Apaixona-se por Daniela Pontes e mantém uma relação secreta com ela.
  


“Danadas de linhas mais tortas... Mas é sempre assim que o Destino escreve.”


Nos primeiros capítulos, esta frase é dita pela cigana Vida, quando se apercebe do quão intrincada esta trama se vai tornar no futuro. De facto, Aguinaldo Silva escreveu uma das tramas mais intrincadas e bem montadas de sempre da história da teledramaturgia brasileira. As personagens estão bem desenvolvidas e é-nos fácil gostar delas ou odiá-las, conforme o caso. Isto consegue-se, porque as atuações são magistrais, desde as personagens mais importantes até aos pequenos papéis sem grande impacto na trama. Além disso, a espinha dorsal que segura toda esta telenovela é brilhante. Literalmente! O célebre lençol de diamantes é ‘uma personagem invisível’ e o motivo pelo qual tudo acontece nesta história. É a motivação ideal tanto para os protagonistas como para os vilões. Inclusive, é o motivo pelo qual uma das personagens mais carismáticas da novela, o fotógrafo sedutor Jorge Tadeu, chega a Resplendor. Ele e os seus famigerados retratos, mais a sua caderneta cheia de anotações crípticas são quase uma história dentro da história principal.

A história daquele amor enviesado entre Murilo e Pilar tem tanto de envolvente como de exasperante. Os dois não conseguem esconder o intenso amor que sentem um pelo outro (mesmo depois de 25 anos e ausência) por detrás daquele verniz de ódio e de desprezo. É engraçado quando vemos que o título desta novela dobrada na Venezuela é “Te odio mi amor”! Os tradutores conseguiram capturar perfeitamente o sentimento que permeia toda a trama.


Estas são algumas das minhas cenas preferidas da novela:

A Gruta dos Amores – Apesar de Marina e Leonardo se verem pela primeira vez no comboio, é na gruta que os dois se conhecem melhor. Quando se dá uma derrocada e os dois ficam presos lá dentro, eles têm todo o tempo do mundo para se conhecerem (ainda que Leonardo se recuse a dizer o seu apelido). Quando ela descobre quem ele realmente é, claro que não correu bem… Mas este momento é a primeira vitória do Amor contra o Ódio que eles estavam destinados a herdar. 

O reencontro entre Murilo e Leonardo  Num dos primeiros capítulos, quando Leonardo volta para casa e se encontra frente a frente com Murilo pela primeira vez na trama. Nunca vi tamanho orgulho do pai nem tamanha apreensão do filho, que sabe (tal como nós) que o destino ainda lhe vai trazer muitos dissabores. 

O monólogo de Cândido Alegria – Num dos primeiros capítulos, o nosso vilão tem um ataque de fúria quando se lembra de tudo aquilo que os seus inimigos já disseram sobre ele. Entre o êxtase que sente com a sua conquistada fortuna e o desespero de ser ignorado pela única mulher que ama, Cândido Alegria jura vingança e sonha com dia em que Pilar Batista o vai amar. Que actuação magistral de Armando Bógus! 

A conversa entre Marina e Murilo sobre os cartazes – Estas duas personagens já tinha tido outros encontros antes, mas esta conversa é particularmente interessante. Murilo está furioso pelo facto dos cartazes do seu filho terem sido roubados e Maria vai fazer justiça à honra da mãe. A assertividade dos argumentos de Marina dobra essa raposa velha que é o deputado Murilo Pontes e ele acaba concordar com ela que Pilar Batista nunca cometeria um acto daqueles. 

A conversa entre Marina e Hilda no cemitério – A matriarca dos Pontes marca uma reunião secreta com a jovem herdeira dos clã dos Batista para falar sobre um assunto muito delicado e íntimo. Hilda tenta persuadir Marina a confessar os seus sentimentos por Leonardo, mas a jovem resiste com toda a assertividade que possui (embora o seu olhar a traia!). Mas. como intuição de mãe nunca falha, Hilda intui que o ódio que Marina diz sentir pelo seu filho é só para mascarar os seus verdadeiros sentimentos por ele. Antes de Marina se retirar, Hilda reforça a sua mensagem, garantindo que apoia incondicionalmente os dois amantes.

A morte de Jorge Tadeu – É a cena com um cadáver mais bonita que eu alguma vez vi. Um momento verdadeiramente icónico na história da teledramaturgia brasileira. O fotógrafo é morto a tiro na cama de Adamastor e muitas borboletas cercam o seu corpo que exala um "perfume de flor" sufocante. É muito bonita a cena em que uma das borboletas sai pela janela e vai parar à moita onde ele costumava 'aliviar-se' depois de um dia a tirar fotografias.

A reconciliação de Marina com Leonardo – Apesar das acusações de ciúmes que Marina faz a Leonardo (que podiam ter piorado ainda mais a situação entre os dois), a verdade é que ele reconheceu que ela falava verdade. E assim, sem ego, sem orgulho, com as linhas de comunicação abertas, os dois amantes reconciliaram-se e conseguiram o que os seus pais nunca conseguiram! 

Marina chama pelo Leonardo – A arder em febre, Marina murmura o nome de Leonardo. Pilar ouve e fica desconfiada. Fica mais desconfiada ainda quando o próprio Leonardo tenta visitar Marina contra a vontade do pai e de Pilar. Eliane bem tenta desviar a atenção da sua mãe adoptiva, mas Pilar fica com a pulga atrás da orelha. Dona Quirina, que é a criatura mais esperta da mansão dos Batista, apercebe-se de tudo sem que ninguém tenha que lhe explicar nada.

A posição de Hilda Pontes – Quando Hilda visita uma Marina acamada e faz questão de explicar à Pilar que não tem nada a ver com o ódio entre os Batistas e os Pontes e não quer ter nada a ver com o ódio que se destila entre as duas famílias há séculos. Hilda exalta ainda o discurso que Marina fez após a tempestade e garante que ninguém saberá da sua visita. Pilar fica deveras impressionada com a mulher do seu inimigo. É um daqueles momentos maravilhosos em que vemos a bondade e a força de carácter de Hilda; algo que, nem uma mulher como Pilar Batista, pode negar ou desrespeitar. 

Hilda pergunta a Murilo se tem sido uma boa esposa  Após descobrir a infidelidade do marido, Hilda vai ser com ele e Murilo garante-lhe que ela é a melhor esposa que um homem pode desejar e diz que lhe estará eternamente agradecido. Afinal, se não fosse por ela, ele teria tirado a própria vida. 

A conversa definitiva entre Pilar e Murilo  Quando o deputado vai a casa de Pilar esclarecer a situação com a paternidade de Eliane, eles envolvem-se numa calorosa discussão e cutucam nas feridas do passado. No final, ao fim de 25 anos de mal-entendidos e ódio, percebe-se que nenhum deles mudou a sua posição sobre o tema. Orgulho ferido e teimosia é tudo o que os impede de viver o seu amor.

Os pais 'flagram' os filhos – a meio da trama, Murilo e Pilar encontram a cabana onde os filhos se encontravam. O flagrante é seguido pelo choque daquela traição familiar, Hilda tenta impedir que os dois alcancem a cabana, mas não chega a tempo de impedir o confronto. É o momento mais tenso da trama com representações magistrais dos actores principais. 

As conversas dos pais e dos filhos – A conversa de Pilar com Marina e a conversa de Murilo com Leonardo são dois dos meus momentos favoritos. São conversas diametralmente opostas; a mãe e a filha sempre tiveram uma ligação mais forte e o ressentimento de Pilar em relação a Murilo faz com que ela seja muito cruel com Marina num momento tão delicado como aquele. Já a conversa entre Murilo e Leonardo resume-se a aspirações políticas que o pai pensa que o filho tem. No final, Murilo é incapaz de compreender que Leonardo não tem a mínima vocação para o cargo e estava só a fazer o jogo do pai até lhe poder contar a verdade. Ao contrário de Pilar (que faz um ultimato à filha), Murilo é incapaz de encontrar uma forma de diálogo com o filho e expulsa-o de casa. Uma cena de partir o coração!

A escolha de Marina – Para uma história tantas vezes comparada à Tragédia de Romeu e Julieta, Marina consegue a proeza de analisar friamente a sua situação e trabalhar em conjunto com o homem que ama para evitar cair na mesma armadilha que condenou Murilo e Pilar a uma vida de ódio permanente. Quando Marina escolhe ficar ao lado da mãe e concorrer à Prefeitura de Resplendor, mantendo o seu romance clandestino com Leonardo, ela consegue alcançar tudo o que deseja. E no final, tanto Pilar como o Murilo têm de engolir o sapo de ser os filhos casados e as duas famílias unidas em sagrado matrimónio!



E da boca do autor:





Obrigado por esta obra-prima, Aguinaldo Silva!

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