O jovem Walter |
A minha infância foi preenchida com a magia dos filmes de Walt Disney. Milhões
de crianças tiveram experiências semelhantes ao longo das décadas, suponho.
Admiro-lhe a arte e o engenho. No entanto, nunca tinha lido uma biografia do
homem que mudou a paisagem da cultura popular Norte-americana.
Esta biografia, escrita meticulosamente por Neal Gabler, relata e
comenta a vida de Walter Elias Disney, ou simplesmente, Walt, como ele insistia
que os seus colaboradores o tratassem. É uma biografia honesta que navega pelos
triunfos e fracassos do homem, sem nunca se esquivar ao lado mais
constrangedor, ao lado mais obscuro do magnata de Hollywood.
Com mais de 800 páginas (200 de notas biográficas) não é para leigos
curiosos, mas sim para os aficionados de um dos maiores génios criativos do
séc. XX. Gabler descreve a infância feliz passada em Marceline, no estado do
Missouri. A família Disney passou cinco anos em Marceline, onde o pai tinha uma
pequena quinta.
Walt entregou jornais em Chicago, mentiu sobre a sua idade para poder
conduzir uma ambulância da Cruz Vermelha na Primeira Guerra Mundial e atirou-se
de cabeça no seu sonho.
Disney, o empreendedor |
Disney sempre sentira um entusiasmo pela indústria da animação. Os seus
primeiros projectos levam-no à Califórnia, onde criou a sua primeira
personagem, Oswald, the Lucky Rabbit. Essa foi também a sua primeira derrota,
mas desse desaire nasceu a personagem que hoje o mundo conhece e adora – Mickey
Mouse.
O imortal rato, baptizado pela mulher de Walt, e a quem ele próprio deu
voz no grande ecrã, tornou-o famoso com o filme Steamboat Willie. No início da Grande Depressão, um dos períodos mais negros da história dos Estados Unidos, o ratinho animado enriqueceu o seu criador e deu trabalho estável a centenas de trabalhadores. Desde
então, Walt Disney não parou de produzir filmes animados.
Walt e o irmão Roy |
É fascinante conhecer o homem imaginativo e inspirado, que conduziu os
seus animadores por essa aventura inaudita de produzir a primeira película animada
a conquistar o coração do público e o respeito dos críticos – Branca de Neve e os Sete Anões.
Disney era um perfeccionista para quem era bastante
difícil de trabalhar e não tinha o costume de partilhar o palco com os seus
colaboradores. Alguns dos seus empregados sentiam-se traídos pelo patrão, que
não lhes dava o crédito devido nas obras em que tanto tinham trabalhado. Outros havia que tinham uma lealdade canina a Walt
Disney, que lhes proporcionava todas as condições que eles desejavam para
desenvolver as suas ideias, ainda que com as respeitosas distâncias. Um dos
artistas conta que, quando o patrão estava no corredor, dava uma sonora tossidela
e alguém gritava a famosa fala do Bambi: “O homem está na floresta”, que
significava perigo iminente.
O perfeccionista em acção |
A lealdade dos seus trabalhadores foi severamente testada na infame
greve de 1941, que ficou conhecida como a guerra civil da animação. Muitos
artistas abandonaram o homem que consideravam injusto para com eles e com o seu
trabalho. Tudo isto, numa altura em que o estúdio estava enterrado em dívidas.
Como sempre fizera, Walt Disney ignorou os seus opositores e acabou por
dar a volta por cima... Apesar do sucesso de filmes como Dumbo e Cinderela, o
estúdio nunca mais foi o mesmo... Walt Disney também não.
Neal Gabler não doura a pílula em relação aos dois lados de Walt Disney. Vemos claramente que o homem que inspirava os seus animadores com a sua inesgotável imaginação, engenho e perseverança; que tirava deles os melhores desenhos; que procurava constantemente melhorar os seus projectos – algo que chamava de “plusing” e que não aceitava nada menos do que a perfeição por parte de todos os seus colaboradores era o mesmo homem que tinha dificuldade em aceitar outro ponto de vista que não o seu; era paranóico em relação a comunistas e a possíveis traições por parte dos seus trabalhadores; e que tentava viver as suas fantasias contra tudo e contra todos, enlouquecendo os seus credores.
Uma dessas fantasias era a Disneylândia e o projecto da cidade futurista
na Florida. De facto, após a greve de 1941, o empreendedor perdeu muito do seu
entusiasmo pelos filmes animados e decidiu criar outra empresa – a WED
(acrónimo do seu nome) para criar um parque temático que iria revolucionar o
conceito de parques temáticos nos Estados Unidos. A WED representava um
regresso às origens para Disney – uma empresa feita por poucos associados –
como nos tempos em que ele e um punhado de animadores criavam as animações do
rato Mickey.
Esta biografia tem inúmeras notas interessantes, e é um bom exemplo de
como escrever uma biografia sem endeusar ou demonizar o homem, explorando todas
as facetas da sua vida.
Disney, inspirando os seus animadores |
O livro encontra-se disponível na WOOK com o título Walt Disney: The Biography.
Também pode ser encontrado na Amazon, com um título ligeiramente diferente: Walt Disney: The Triumph of the American Imagination.
Sem comentários:
Enviar um comentário