1 de novembro de 2015

"Man is in the Forest"

O jovem Walter


A minha infância foi preenchida com a magia dos filmes de Walt Disney. Milhões de crianças tiveram experiências semelhantes ao longo das décadas, suponho. Admiro-lhe a arte e o engenho. No entanto, nunca tinha lido uma biografia do homem que mudou a paisagem da cultura popular Norte-americana.


Esta biografia, escrita meticulosamente por Neal Gabler, relata e comenta a vida de Walter Elias Disney, ou simplesmente, Walt, como ele insistia que os seus colaboradores o tratassem. É uma biografia honesta que navega pelos triunfos e fracassos do homem, sem nunca se esquivar ao lado mais constrangedor, ao lado mais obscuro do magnata de Hollywood.


Com mais de 800 páginas (200 de notas biográficas) não é para leigos curiosos, mas sim para os aficionados de um dos maiores génios criativos do séc. XX. Gabler descreve a infância feliz passada em Marceline, no estado do Missouri. A família Disney passou cinco anos em Marceline, onde o pai tinha uma pequena quinta.  


Walt entregou jornais em Chicago, mentiu sobre a sua idade para poder conduzir uma ambulância da Cruz Vermelha na Primeira Guerra Mundial e atirou-se de cabeça no seu sonho.



Disney, o empreendedor


Disney sempre sentira um entusiasmo pela indústria da animação. Os seus primeiros projectos levam-no à Califórnia, onde criou a sua primeira personagem, Oswald, the Lucky Rabbit. Essa foi também a sua primeira derrota, mas desse desaire nasceu a personagem que hoje o mundo conhece e adora – Mickey Mouse.


O imortal rato, baptizado pela mulher de Walt, e a quem ele próprio deu voz no grande ecrã, tornou-o famoso com o filme Steamboat Willie. No início da Grande Depressão, um dos períodos mais negros da história dos Estados Unidos, o ratinho animado enriqueceu o seu criador e deu trabalho estável a centenas de trabalhadores. Desde então, Walt Disney não parou de produzir filmes animados.



Walt e o irmão Roy

É fascinante conhecer o homem imaginativo e inspirado,  que conduziu os seus animadores por essa aventura inaudita de produzir a primeira película animada a conquistar o coração do público e o respeito dos críticos – Branca de Neve e os Sete Anões.

Disney era um perfeccionista para quem era bastante difícil de trabalhar e não tinha o costume de partilhar o palco com os seus colaboradores. Alguns dos seus empregados sentiam-se traídos pelo patrão, que não lhes dava o crédito devido nas obras em que tanto tinham trabalhado. Outros havia que tinham uma lealdade canina a Walt Disney, que lhes proporcionava todas as condições que eles desejavam para desenvolver as suas ideias, ainda que com as respeitosas distâncias. Um dos artistas conta que, quando o patrão estava no corredor, dava uma sonora tossidela e alguém gritava a famosa fala do Bambi: “O homem está na floresta”, que significava perigo iminente. 

O perfeccionista em acção


A lealdade dos seus trabalhadores foi severamente testada na infame greve de 1941, que ficou conhecida como a guerra civil da animação. Muitos artistas abandonaram o homem que consideravam injusto para com eles e com o seu trabalho. Tudo isto, numa altura em que o estúdio estava enterrado em dívidas.

Como sempre fizera, Walt Disney ignorou os seus opositores e acabou por dar a volta por cima... Apesar do sucesso de filmes como Dumbo e Cinderela, o estúdio nunca mais foi o mesmo... Walt Disney também não.


Neal Gabler não doura a pílula em relação aos dois lados de Walt Disney. Vemos claramente que o homem que inspirava os seus animadores com a sua inesgotável imaginação, engenho e perseverança; que tirava deles os melhores desenhos; que procurava constantemente melhorar os seus projectos – algo que chamava de “plusing” e que não aceitava nada menos do que a perfeição por parte de todos os seus colaboradores era o mesmo homem que tinha dificuldade em aceitar outro ponto de vista que não o seu; era paranóico em relação a comunistas e a possíveis traições por parte dos seus trabalhadores; e que tentava viver as suas fantasias contra tudo e contra todos, enlouquecendo os seus credores.

Uma dessas fantasias era a Disneylândia e o projecto da cidade futurista na Florida. De facto, após a greve de 1941, o empreendedor perdeu muito do seu entusiasmo pelos filmes animados e decidiu criar outra empresa – a WED (acrónimo do seu nome) para criar um parque temático que iria revolucionar o conceito de parques temáticos nos Estados Unidos. A WED representava um regresso às origens para Disney – uma empresa feita por poucos associados – como nos tempos em que ele e um punhado de animadores criavam as animações do rato Mickey.


Esta biografia tem inúmeras notas interessantes, e é um bom exemplo de como escrever uma biografia sem endeusar ou demonizar o homem, explorando todas as facetas da sua vida.


Disney, inspirando os seus animadores

O livro encontra-se disponível na WOOK com o título Walt Disney: The Biography





Também pode ser encontrado na Amazon, com um título ligeiramente diferente: Walt Disney: The Triumph of the American Imagination.


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