De que vale oferecer a chave do coração se o convidado escolhe ficar à porta? O que se ganha se a chave não rodar na fechadura?
Esta troca de chaves é diária, constante, frenética. Em tempos idos, oferecer a chave era uma acção preciosa e quem a tinha na mão, tinha orgulho em tê-la. Mas, neste mundo de cliques, todos têm chave (quer o saibam ou não) e escolhem não entrar. Olham desesperados pelo buraco da fechadura, sem nunca sentirem o peso da oportunidade única que têm nas mãos.
Porque será?
Será porque acham que o peso é maior que a recompensa? Será porque idealizam algo que não existe – a partir dos vultos que vislumbram através da fechadura – e se dão por satisfeitos com as suas ilusões?
Outros há que se sentam teimosamente à porta, ou que forçam a fechadura com galhos e pedras, e se esquecem, no seu movimento desassossegado, que sempre tiveram tudo o que precisavam para entrar.
Talvez nada disto importe porque, no final, nenhum dos dois grupos quer tomar o peso da chave nos seus ombros. Talvez seja por isso que a ignoram; talvez seja por isso que idealizem uma realidade com que se possam consolar, uma intimidade falsa, de plástico, virtual, realizada num punhado de caracteres.
A chave pesa, sei-o bem, mas mais penoso é o peso de não ter chave que nos pese.
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