Não
tenho pressa: não a têm o sol e a lua.
Ninguém
anda mais depressa do que as pernas que tem.
Se
onde quero estar é longe, não estou lá num momento.
Sim:
existo dentro do meu corpo.
Não
trago o sol nem a lua na algibeira.
Não
quero conquistar mundos porque dormi mal,
Nem
almoçar o mundo por causa do estômago.
Indiferente?
Não:
filho da terra, que se der um salto, está em falso,
Um
momento no ar que não é para nós,
E só
contente quando os pés lhe batem outra vez na terra,
Traz!
na realidade que não falta!
Não
tenho pressa. Pressa de quê?
Não
têm pressa o sol e a lua: estão certos.
Ter
pressa é crer que a gente passe adiante das pernas,
Ou
que, dando um pulo, salte por cima da sombra.
Não;
não tenho pressa.
Se
estendo o braço, chego exactamente aonde o meu braço chega -
Nem
um centímetro mais longe.
Toco
só aonde toco, não aonde penso.
Só me
posso sentar aonde estou.
E
isto faz rir como todas as verdades absolutamente verdadeiras,
Mas o
que faz rir a valer é que nós pensamos sempre noutra coisa,
E
somos vadios do nosso corpo.
E
estamos sempre fora dele porque estamos aqui.
–– Alberto Caeiro
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