2 de agosto de 2013

Jorge e o Dragão


Em 13 de Março de 2013, o cardeal Jorge Mario Bergoglio foi eleito pelo conclave e converteu-se (para o mundo) no Papa Francisco, sendo o 266º Papa a sentar-se no trono de Pedro.

Será ele o Papa do Fim do Mundo de que falava Malaquias? Será o Papa Negro de que falava Nostradamus? Após a sua eleição, o cardeal Bergoglio disse que os seus colegas o tinham ido buscar "ao fim do mundo" e, sendo um padre da Companhia de Jesus, a sua sotaina é negra. Coincidências? Ou será este um sinal do fim dos tempos? 

Profecias à parte: o cardeal Bergoglio é o primeiro Papa da América latina, é o primeiro Papa jesuíta e o primeiro Papa a escolher um nome nunca antes escolhido. Chama-se 'Francisco' em honra de São Francisco de Assis – famoso pela humildade e ajuda aos mais pobres e desfavorecidos. Bergoglio já é conhecido como o 'Papa dos pobres'.

A cruz de madeira (em vez de ouro), os sapatos pretos (em vez dos sapatos papais), a residência humilde (em vez da residência papal) não são imagens falsas de um homem que faz bluff. Os seus antecedentes de humildade e de dedicação aos mais pobres da Argentina são bem conhecidos e reconhecidos por todos quantos por ele foram ajudados. Enquanto Arcebispo de Buenos Aires, Bergoglio não vivia num palácio nem andava de limusina; vivia num apartamento modesto e deslocava-se de autocarro.

Entre os seus primeiros gestos como Papa, Francisco renunciou aos luxos papais e lavou os pés a mulheres muçulmanas na cerimónia da Páscoa. 

Regressado recentemente das Jornadas Mundiais da Juventude, no Brasil, onde celebrou missa para mais de três milhões de fiéis na praia de Copacabana, Sua Santidade regressou ao Vaticano, dando uma entrevista polémica onde respondeu a perguntas sobre os padres homossexuais e o sacerdócio feminino.

Mas voltemos um pouco atrás, porque eu acho que o Papa Francisco tem problemas bem mais sérios para resolver. 

Ora bem, sabemos que este homem tem, não só as credenciais, com lidera pelo seu exemplo de serviço comunitário na Argentina. Prefiro a sua humildade à pompa e circunstância vazia de significado típica do Vaticano. A questão agora é: será Francisco o último homem honesto num Vaticano corrupto? Sim, porque, quem tem dois olhos na cara sabe que essa instituição chamada Vaticano é corrupta até ao tutano: desde guerras 'santas', indulgências, perseguições a pessoas consideradas 'bruxas', condenações aos intelectuais, inquisições até aos escândalos de pedofilia e de corrupção económica que assolaram a instituição nos últimos anos, o Vaticano sempre teve mais respeito por parte dos fiéis do que aquele que merecia.

Jorge Mario Bergoglio tem demonstrado grande vontade e optimismo em lutar pela justiça social; está na posição mais previligiada que um homem pode ter para alçar as mangas e fazer uma obra à séria dentro da instituição e fora dela. O que, certamente, lhe trará muitos e muitos inimigos, pois esse é o destino de todos os que se revoltam contra esse 'dragão' a que se chama corrupção. Os 'poderes' do Vaticano confundem humildade com humilhação e autoridade religiosa com poder despótico... O facto de estes homens terem escolhido o cardeal Bergoglio não me inspira a mínima confiança.

Só me resta ter fé que o homem Jorge Mario Bergoglio lute com todas as suas armas contra o 'dragão' da corrupção e da maldade. Ele tem uma coisa a seu favor: está numa situação em que pode fazer felizes todos os seus fiéis seguidores, contanto que:


  • responsabilize os padres pedófilos pelos seus crimes e os entregue às autoridades competentes;
  • livre a Santa Sé de todos os lóbis políticos ou de qualquer outra natureza;
  • resolva de uma vez por todas o escândalo do Banco do Vaticano;


Se Jorge Mario Bergoglio resolver de vez estes cancros que assolam o Vaticano, será o Papa mais respeitado e admirado de todos os tempos. De contrário, pertencerá às inúmeras fileiras dos que muito falam e pouco fazem, o que será verdadeiramente triste.

Não me parece que os homossexuais terão algum dia aceitação pelo seu comportamento por parte da Igreja Católica. O Papa não quer julgar os homossexuais pela sua fé, mas a sua orientação sexual é vista como um comportamento anormal e, portanto, pecaminoso. Rezo para que o Papa se sente a ler uns quantos artigos científicos que expliquem o que de facto é a homossexualidade, mas não vou esperar que a opinião da Igreja mude a este respeito.

Quanto ao sacerdócio feminino... A verdade é que Cristo nunca disse algo como: escutai. Em verdade vos digo que nenhuma mulher servirá jamais a Igreja e o Pai num altar ou terá autoridade para o fazer.

Mas, como Cristo também nunca disse: Todos os que sentirem o chamamento do Espírito Santo de servir a Deus e à Igreja, sejam homens ou mulheres que receberam o baptismo, dar-lhes-ei autoridade para que O sirvam.

À falta de estas palavras, a Igreja Católica decidiu que as mulheres não deveriam ser padres, alegando que, se Jesus assim o quisesse, teria ele mesmo feito essa escolha.

Há mais razões para a Igreja Católica alegar que não tem autoridade para ordenar mulheres no sacerdócio; de entre as que li, não vi nenhuma razão categoricamente misógina, mas sim de carácter simbólico. Ainda assim, gostava muito que o Papa Francisco acordasse amanhã e decidisse estudar seriamente este assunto, pensando pela sua própria cabeça e não pela de João Paulo II, baseando-se tão somente nas Escrituras... mas não tenho ilusões quanto a esse respeito. O Papa disse que, apesar de as mulheres serem mais importantes do que os apóstolos, bispos, diáconos e padres, "essa porta" (a do sacerdócio feminino) "está fechada". Espero, contudo, que ele crie a dita "explicação teológica" sobre o papel das mulheres, de que falou aos jornalistas, visto que não é claro para os fiéis qual é de facto o papel das mulheres na Igreja. O Papa abriu uma nova porta nesta questão e terá de ser ele a dar o exemplo.

Espero que Deus dê força a este homem para que ele 'mate o dragão' da podridão moral que corrói o Vaticano. Será esperar demais de um homem só?

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